E agora?



Dentre idas e vindas torci para não sentir tua presença pelos locais que frequentamos. Orei pela ausência do corpo, quase fraca. Ou fraca.
Pedi para não sentir as mãos, o cheiro único ou nem que seja, a voz. Torci, orei, pedi..em vão!
Passou e ficou com a cara de extasiado ao perceber que ocupávamos o mesmo espaço. Novamente. Senti cair aos poucos a base sólida que criei e que por longos meses me pareceu firme, e que você não me afetaria nunca mais.

E sem dizer uma única palavra, conversamos por horas entre olhares. O desejo do corpo um do outro gritava no peito, e por mais que existisse as negações, todos ao redor perceberam nossa "energia  assustadora", como você mesmo dizia.
Aos poucos fui me desarmando, lutei tanto para não me afundar na alegria em te rever, querendo me manter forte e fingir estar com raiva. Não consegui nem a primeira parte.
Fiquei com raiva de estar apenas um metro a minha frente e não ter dado um passo em minha direção pra me tomar nos braços, ou sinalizar pra me encontrar atrás de qualquer galpão, escondido, pra não dar a alegria dos outros, em saber que ainda nos pertencemos.
Senti raiva, também, dessa tua blusa azul clara que detesto. Por mim já estaria rasgada, lá longe. Odiei tua blusa, na mesma medida que sei que tu deve ter odiado em me ver de cabelo solto com os brincos de pérola. Detestou e ainda fez questão de mostrar com o olhar de desaprovação.
E ficou só nisso, ficou só nos olhares, no desejo e na raiva que sabemos que não passa de amor. E mais uma vez se foi o rio de palavras que eu tinha pra te dizer, tudo aquilo que estava engasgado desde que eu fui embora. Tem tanta coisa não esclarecida e a gente nem se preocupa. E nem quer. Por que as palavras sempre fogem ao nos vermos.
Mas e agora, pra quem eu vou falar de amor? 

07.10.12

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